Wanda Marques e Christopher João em Brasília
TransBrasil is a series of portraits aimed at promoting trans visibility through photography in Brazil, my home country. With this project, I got to meet and photograph an intersectional group of Brazilian transgender women from the cities of Brasília and Teresina. The people featured in this project are teachers, social workers, artists, writers, activists, lovers, and students. They are paving the way for a more just and inclusive Brazil as they fight for their rights, occupy spaces in society and make themselves visible to a country that has historically turned a blind eye on them.
I chose the cities of Brasília and Teresina because they offer a snapshot on the trans experience in Brazil. In Brasília, Brazil’s capital city, the portraits were taken by iconic buildings such as the National Congress and The Supreme Court designed by Oscar Niemeyer. These buildings represent democracy and justice, but they are also symbols of the status quo of Brazilian politics. Symbols tainted by the inaction of its leaders, relentless corruption, and misrepresentation of minorities. In Teresina, the capital city of the state of Piauí, most portraits were taken at the Citizen’s Park. This new public space was created to celebrate all its citizens, but it is also a place where many of the women I photographed had never visited because of fear of violence and discrimination. Teresina is located in the northeastern region of Brazil- an area where over 50% of the population live in poverty. The northeast is considered a highly religious region marked by intolerance against gender diversity and where many trans women have been brutally killed.
One of these women is Dandara dos Santos, a black trans woman who lived in Fortaleza, Ceará. Earlier this year, Dandara was dragged out of her home, violently attacked and later killed by several men. The cruelty of her murder shocked the country after a video of the crime went viral. Dandara, like hundreds of trans women in Brazil, became a statistic. According to Bahia Gay Group (BGG), in 2016 alone 343 LGBTQ+ people were killed at a rate of one person at every 25 hours. As of September 2017, 277 people were brutally killed in Brazil. BGG also states that these numbers could be even bigger since many crimes against LGBTQ+ people are not properly reported or investigated, especially in areas like the northeast where police resources and training are lacking. It is also important to note that the life expectancy of trans people in Brazil is 35 years.
All of the people I photographed reported being victims of physical and/or verbal abuse at one point in their lives. Some spoke about the constant verbal violence they go through on a regular basis, others have been physically attacked, some lost friends to hate crimes, and others have reported not being able to get jobs in their chosen field despite being qualified for the position.
The brave women and men pictured in this series don’t see any other option but to continue to fight for their right to be who they are, for their right to come and go without harassment, for their right to pursue their dreams and be happy. Despite extraordinary challenges, they are forging ahead with extraordinary strength, courage, and and hope.
Here are their portraits.
[ 🇧🇷 Portuguese Version 🇧🇷 ]
TransBrasil é uma série de retratos que tem como objetivo documentar as experiências de pessoas trans no Brasil, meu país de origem, e promover a visibilidade trans através de registros fotográficos. Com o projeto pude conhecer e fotografar um grupo interseccional de pessoas trans brasileiras das cidades de Brasília e Teresina. As pessoas retratadas nesta série de fotos são professoras, assistentes sociais, artistas, escritoras, estudantes. Ao lutarem pelos seus direitos e ocuparem espaços cada vez mais visíveis na sociedade elas estão construindo um país mais justo e inclusivo em um Brasil que historicamente se fez de cego às suas existências.
Escolhi as cidades de Brasília e Teresina pois essas cidades representam um pouco do retrato da vivência de pessoas trans no Brasil. Em Brasília, a Capital do Brasil, usei o fundo desenhado por Oscar Niemeyer de prédios famosos como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. Tais edifícios representam a democracia e a justiça mas também simbolizam o status quo da política brasileira- símbolos sinônimos da letargia de seus líderes, corrupção, e exclusão das minorias. Já em Teresina, a capital do Estado do Piauí, a maioria dos retratos foram registrados na Parque da Cidadania, um um novo espaço feito para celebrar todos os cidadãos teresinenses e um lugar onde algumas das mulheres trans que fotografei nunca haviam frequentado por medo de sofrerem violência e discriminação. Teresina está localizada no nordeste do Brasil, uma região onde mais de 50% da população vive em pobreza. O nordeste é considerado bastante religioso e uma região marcada pela intolerância contra a diversidade do gênero e onde muitas mulheres trans foram brutalmente assassinadas.
Uma destas mulheres é Dandara dos Santos, transgênero negra que morava em Fortaleza, Ceará. Dandara foi tirada de sua casa a força, atacada violentamente e depois assassinada por vários homens. A crueldade do assassinato de Dandara chocou o país depois que os vídeos viralizaram nas redes sociais. Dandara, assim como centenas de pessoas LGBTQ+ do Brasil, tornou-se estatística. De acordo com dados da Bahia Gay Group (BGG), no ano de 2016, 343 pessoas LGBTQ+ foram assassinadas, com frequência de uma pessoa morta a cada 25 horas. Até setembro de 2017, 277 pessoas da comunidade foram brutalmente assassinadas, com frequência de 1 pessoa morta por dia. BGG indica que estes dados possam ser ainda maiores, já que muitos crimes não são propriamente registrados ou investigados no Brasil, principalmente em áreas como o nordeste onde recursos para a polícia local e treinamento ainda são escassos. É importante notar que a expectativa de vida de pessoas trans no Brasil é de 35 anos.
Todas as pessoas que eu entrevistei relataram ter sido vítimas de discriminação, ou algum tipo de violência física ou verbal em algum momento de suas vidas. Algumas falaram sobre a constante violência verbal pela qual são submetidas no dia a dia, outras são fisicamente atacadas, muitas perderam pessoas próximas vítimas de crimes de ódio, outras ainda disseram ter dificuldade em encontrar empregos formais, algumas possuem graduação especializada mas não conseguem emprego embora sejam qualificadas.
As pessoas que compõem este projeto fotográfico não veem saída a não ser continuar lutando pelo seu direito de ser quem são, de conquistar seu direito de ir e vir sem abusos, de não serem discriminadas e violentadas, batalham pelo seu direito de concretizar seus sonhos e buscar a felicidade. Aqui estão os seus retratos.
Phabiola Setin Vieira do Amaral, Brasília
Estudante / Student
“Being trans in Brasília sums up well what it is like to be trans in the rest of the country. When you pass as being cis you are not directly the target of transfobia until they find out your [gender] identity. The ones who don’t pass as cis are the ones most affected by prejudice on the streets or wherever you go. I’ve already lost a job after my gender identity came to surface. Unfortunately this is our day to day reality.
Ser trans em Brasília resume bem o que é ser trans na maioria do restante do país. Enquanto você tem uma certa “passabilidade” cis você não é tão diretamente alvo de preconceito escancarado até saberem da sua identidade. As que infelizmente não tem a tal “passibilidade” essas sim sofrem o preconceito de cara na rua ou onde quer que vão. Já perdi oportunidade de emprego por depois descobrirem a minha identidade. Infelizmente é um cotidiano que vivenciamos no nosso cotidiano.”
Monique Alves, Teresina
Presidente da ONG ATRAPI (Associação de Travestis e Transexuais de Piauí), Ativista / Activist, President of ATRAPI, a non-profit organization working to reduce violence against trans people in Teresina
“Like any other place in the world, in Teresina there is still a lot of intolerance and violence against the trans population. I would like to see a Brazil with more respect.
Como qualquer lugar do mundo, aqui em Teresina também há muita intolerância e violência contra a população trans. Gostaria de ver um Brasil com mais respeito. ”
Danny Barradas, Teresina
Professora, consultora de escrita e argumentação para o ENEM e concursos públicos, escritora, colunista / Teacher, writing and argumentation consultant, writer and columnist.
“To have the courage to assume your transexuality is to have the certainly of becoming free, but it is also a recognition that safety will no longer be present.
Ter a coragem de assumir a transexualidade é ter a certeza de concretizar a sua liberdade, mas reconhecer que a segurança não mais se fará presente.”
Paula Benett, Brasília
Assessora Especial da Coordenação de Diversidade LGBT do Distrito Federal, Formada em Serviço Social, Representante da RedeTrans, Conselheira da Mulher Palestrante do Gênero e Sexualidade, Poetisa, Escritora / Special Counselor for LGBT Diversity in Brasília, Graduate of Social Work Studies, Representative of Trans Network, Women's Rights Counselor, Public Speaker in Gender and Sexual Diversity, Writer
“I am a warrior and survivor. I’ve gone through trying times in my life and am someone who fought and continues to fight prejudice and discrimination imposed on us by a conservative, binary, sexist and LGBT-phobic. We must continue our journey and fight for our dreams and aspirations.
Sou uma mulher guerreira e sobrevivente. Sou uma pessoa que enfrentou e ainda segue enfrenta o preconceito e a discriminação impostos por uma sociedade conservadora, binária, machista e LGBTfóbica. Devemos continuar nossa jornada e lutar por nossos sonhos e objetivos.”
Melissa Massayury, Brasília
Vice-Presidente da ONG Ultra (União Libertária de Travestis e Mulheres Transexuais), Estudante de Direito, Ativista, Estagiária de Direitos Humanos na Nações Unidas). / Vice-President of the Non-Profit Ultra, Law Student, Activist, Intern at the U.N in Brasília
“My fight is constant. I fight not only for myself but for all of us. I hope to serve as a reference for other trans women that it is possible to overcome transphobia and occupy spaces that belong to us. It is possible to make our dreams come true.
Minha luta é constante e não é só para mim é para todas nós. E quem sabe também servir de referência para outras mulheres trans e travestis que é possível superar a transfobia e ocupar os espaços que nos pertencem. É possível realizar nossos sonhos.”
Maria Laura dos Reis, Teresina
Assistente Social, Ativista / Social Worker, Activist
“Pretendo entrar no legislativo, tanto como vereadora, deputada estadual ou federal. Tenho essas pretensões políticas pois é importante ter representatividade trans nesse espaço para ajudar criar ferramentas de enfrentamento contra o preconceito e a discriminação.
I plan on entering the legislative arena either as a councilwoman, state representative or congresswoman. I’ve been having these political ambitions because it is important for a trans person to occupy these spaces to help create tools to fight discrimination and prejudice. ”
Christopher João and Wanda Marques, Brasília
Wanda Marques: Professora de Geografia, Ativista dos Diretos Humanos e dos Animais, Membro do ONG ULTRA, Estudante de Design de Moda / Geography Teacher, Human and Animal Rights Activist, Member of ULTRA - a Trans Rights Organization.
Christopher João: Formado em Turismo, Guia turístico especializado em Brasília, Estudante de Licenciatura em História e Francês. / Tourism Graduate, Tourist Guide specializing in Brasília, Student of History Teaching and French.
“Quando uma pessoa trans se apresenta a primeira coisa que pensam é que trabalha no ramo da prostituição ou da pornografia, já que o brasil é o pais que mais consome pornografia trans (shemale) no mundo. Esse esteriótipos precisam ser quebrados.
When a trans person identifies themselves, the first think that people think is that they work in prostitution or pornography. Brazil is the number country in the world for trans (shemale) pornography in the world. These stereotypes need to broken.”
“Gostaria que as pessoas entendessem que a transexualidade é uma parte de mim e não meu todo. Também sou professora, estudante de Design de Moda, pesquisadora, militante e diversas outras coisas que formam meu ser.
I’d like people to understand that being trans is only one part of me. I am also a teacher, a researcher, a fashion design student, activist among many other things that make me who I am. ”
Daniela Sousa Nunes, Brasília
Formada Serviço Social, Ativista da ONG ULTRA (União Libertária de Travestis e Mulheres Trans), Formada no Curso de Transformação pela ONU Livres e Iguais / Social Work Graduate, Activist at the nonprofit ULTRA, Graduate of ONU's Free and Equal Program
“Em tempos de retrocesso social fica ainda mais difícil pois as pessoas trans são ainda mais marginalizadas. São as primeiras a serem demitidas, além de não serem atendidas adequadamente no Sistema Único de Saúde.
In times of social regression, it becomes even harder for trans people because we are still very marginalized. We are the first ones to be laid off besides not receiving proper medical care at SUS (The Brazilian Universal Health Care System). ”
Luísa Veras Martins, Brasília
Cabeleireira e Maquiadora / Hair Stylist and Make-up Artist
“Quero me tornar uma pessoa que eu mesma, olhe para trás e me reconheça como uma vencedora, por fazer parte dessa revolução trans que busca seus direitos, por sua dignidade e integridade na sociedade.
I want to be able to look back and see myself as a victorious for being part of this trans revolution as we go after our rights, dignity and integrity in society.”
Lícia Anchieta Borges e Silva, Teresina
Biomedicine Doctor specializing in aesthetic biomedicine, biochemistry analyst, owner of a beauty clinic / Biomédica especialista em biomedicina estética, analista bioquímica, proprietária de um consultória estético
“Gostaria que as pessoas entendessem que nós temos as nossas necessidades assim como todos têm. Nós não queremos nenhum privilégios ou um novo conjunto de regras, queremos as mesmas. Estamos apenas buscando a felicidade.
I would like that people understand that we all have our needs like everyone else. We don’t want any privileges or a new set of rules, we want the same. We are just looking for happiness.”
Leonna Osterne, Teresina
Private Sector Employee
“Gostaria de ver um aumento nas oportunidade de emprego para pessoas trans no mercado de trabalho. Gostaria que a população brasileira tire de si o preconceito. Nós somos todas iguais. Pagamos nossos impostos.
I would like to see more employment opportunities for trans people in the job marketplace. I would like to see the Brazilian population overcome prejudice. We are all the same. We pay our taxes and deserve the same rights and protections. ”